sábado, 5 de abril de 2008

CLÁSSICOS DO ROCK I - GEORGE HARRISON







O mais zen dos Beatles, George Harrison, nasceu em Liverpool, Inglaterra, em 25 de fevereiro de 1943. George sonhava ser músico desde pequeno, contrariando o pai que queria que ele o ajudasse em sua oficina mecânica. Aos 12 anos, seus pais, embora pobres, lhe compraram uma guitarra de 3 libras e George começou então, a aprender a tocar sozinho. Ele e os irmãos formaram uma banda chamada “The Rebels” que se fez um único show num obscuro clube chamado “Spoken”. Apesar de ter três irmãos, foi o único que estudou no Liverpool Institute, onde veio a conhecer John e Paul. Paul havia se impressionado com a sua maneira de tocar guitarra e o convidou para entrar na banda que ele e John tinham: “The Quarrymen” . George passou, assim, a integrar a banda e eles viajaram para a Escócia e Alemanha. Foi ele quem deu a maior força para que um baterista narigudo, Ringo Starr, entrasse na banda que, a partir de 1961 passou a se chamar “The Beatles”. Os “Beatles” ficam mundialmente famosos e George passou a ser o mais carismático dos 4 rapazes de Liverpool. Na histórica viagem que o grupo fez aos Estados Unidos, em 1964, ele ficou muito doente e sua irmã precisou acompanhá-lo por um bom tempo.
Sua primeira música para a banda foi “Don't Bother Me”, de 1963. Foi um sucesso e logo em seguida ele passou a ter o direito de compor duas músicas para cada disco. Em 1965 ele aprendeu a tocar cítara com o músico indiano Ravi Shankar (pra quem nunca ouviu falar, Shankar é o pai da vencedora do Grammy de 2004, Norah Jones e da simpática Anouska, que segue a tradição do pai em levar a música indiana pelo mundo afora). Em troca George passou a produzir os discos do indiano que teve um papel fundamental em sua via por aproximá-lo do misticismo oriental.

Em 1966, George se indispôs com a banda de Liverpool e, logo após um show em “Candlestick Park” ele declarou sua insatisfação dizendo que não se sentia mais um Beatle. Depois de muita saliva, John e Ringo o convenceram e ele continuou com a banda. Só que, dois anos depois, a insatisfação era maior, principalmente por causa da “cota” de 2 músicas por disco e, na gravação do “White Album” (o famoso álbum Branco) ele convidou seu amigo Eric (God) Clapton para participar da belíssima “While My Guitar Gently Weeps” (o “diálogo” de cordas que eles travam nesta música é um dos melhores momentos do rock de todos os tempos).
Neste ano ele gravou seu primeiro álbum solo: “Wonderwall Music By George Harrison” e no ano seguinte, 1969, durante a gravação de “Get Back” ele e Paul se indispuseram e por uma semana ele deixou de ser um Beatle. O ano de 1969 foi um ano agitado, ele gravou o seu segundo álbum solo, “Eletronic Sound” no qual, conforme o próprio nome já diz, ele usa e abusa de sintetizadores e, para piorar um pouco as coisas, acabou sendo preso por porte de drogas. Ele também participou de um álbum do Cream, de seu amigo Eric Clapton. O nome do álbum era “Goodbye” e ele traz a música “Badge”, assinada por Clapton e um tal de L’Angelo Misterioso, pseudônimo de George.

Com o fim dos Beatles em 1970, George reuniu todas as suas composições que não tinham sido aceitas ou gravadas pelo quarteto e lançou seu álbum triplo “All Things Must Pass”. A época foi bastante turbulenta para ele, além de seus maiores sucessos, “My Sweet Lord”, ser a causa de uma briga (que ele perdeu) na justiça por causa de acusação de plágio, ele descobriu que sua esposa estava tendo um caso com o “muy amigo” Clapton. Ele proibiu os dois de se verem e Clapton acabou gravando para Patty a música “Layla”.
Por vingança ou não, ele acabou tendo um caso com a esposa de Ringo, Maureen, mas a amizade entre os homens não se abalou e ele convidou tanto Ringo quanto Clapton para o lendário “Concert for Bangladesh”. O “Beatle” John Lennon também teria participado do concerto beneficente se George tivesse permitido que Yoko também se apresentasse, mas para grande alegria dos simples mortais, George negou e, apesar da ausência de John, a voz estridente e esgarçada da viúva n° 1 do rock’n roll não está presente em nenhuma das faixas do álbum.
Em 1971 George Harrison seguia sua carreira solo de vento em popa e lançou o álbum “Living In The Material World”. Apesar do sucesso que vinha desfrutando, sua vida pessoal ainda estava em turbulência e ele sempre culpava a esposa, Patty, pelas homéricas brigas que eles tinham. Isso acabou durando até 1974, quando Eric Clapton lançou “Layla”, dedicada à Patty, e ela acabou se casando com Clapton.
Nessa época, George faz as pazes com John Lennon e acabou abrindo sua própria gravadora, a “Dark Horse”. Ele contratou uma mexicana chamada Olívia para ser sua secretária e acabam se casando um dia depois do nascimento do filho deles, Dhani, único filho de George.
Em 1979, George escreveu sua autobiografia de “I Me Mine” numa edição super chic, com capa de couro e tudo, mais fotos e tablaturas de suas músicas. Ele riscou o nome de John no livro, e este acabou ficando tão chateado com George, que nunca mais em sua vida falou com ele. Depois que John morreu, George parece ter se arrependido e lançou ''All Those Years Ago'' em homenagem a ele, com participações de Paul, Ringo e de George Martin.
Vale lembrar que, em fevereiro deste mesmo ano, Harrison esteve no Brasil a convite de seu amigo Emmo (Emerson Fittipaldi), para assistir o Grande Prêmio de F1 em Interlagos. O ex- Beatle ficou hospedado no Hilton Hotel em São Paulo.
George aproveitou bem sua estadia e parecia estar em ótima forma, mesmo tendo sido perseguido e amolado o tempo todo por fã-náticos e jornalistas do mundo todo, ele acabou gentilmente dando entrevistas para rádios e revistas, bem como para programas de tv como o “Fantástico”. Ele ainda deu uma histórica para o comentarista Reginaldo Leme e, em meio a isso tudo, fez amizade com o cantor Jerry Adriani.

Mas nem tudo foram flores e Harrison acabou passando por uma situação, no mínimo constrangedora, quando, em uma de suas saídas do hotel, foi abordado por jornalistas que perguntaram a ele o que estava achando do Brasil e ele teria respondido: "Legal, parece muito com um local que conheci na Índia" . Os críticos torceram o nariz...
O “tímido” Harrison ainda teria se assustado quando, ao adentrar no saguão do Hilton deu de cara com membros de um de seus fã-clubes brasileiros que literalmente o agarram, para seu desconforto.
Ainda neste mesmo ano houve o lançamento do álbum “George Harrison” com as músicas Blow Away, Faster e outras boas faixas.
Nos anos 80, George abriu uma produtora de cinema e acabou sendo lesado por um sócio, o que o fez, em 1996, receber uma indenização milionária. No final da década ele formou a banda Travelling Wilburys”, com Bob Dylan, Tom Petty, Roy Orbison e Jeff Lyne, com quem lançou 2 álbuns.
Em 1989 ele lançou o ábum “Cloud Nine”, que é a sua cara: tem belíssimas músicas como “That’s what it takes”, “This is love” e “Breath away from heaven”. Já os anos noventa foram bastante conturbados para George. Em 1992, ele, após um série de shows no Japão com o amigo Eric Clapton, lançou o álbum duplo “Live In Japan” e parou por aí. Depois deste lançamento ele apenas participou do projeto “Anthology”, dos Beatles com Paul e Ringo.
Em 1997 ele descobriu que estava com câncer, passou por uma cirurgia e se recuperou. No ano seguinte ele compareceu a um tribunal representando Paul, Ringo e Yoko para impedir que o disco “Live At Star Club 62”, dos Beatles, fosse registrado com outro nome. Ganhou o processo e participou de shows e concertos.

Na virada do milênio, um tranqüilo e sereno George foi esfaqueado por um fã que o atingiu no pulmão. Ele se recuperou, mas três meses mais tarde, descobriu que estava com câncer no pulmão. Foi operado, mas alguns meses depois o câncer voltou, desta vez localizado no seu cérebro. Em Outubro, ainda em tratamento quimioterápico, ele fez uma gravação memorável, no show de Jools Holland, na BBC, onde cantou “Horse to the water”, música que havia composto com o filho Dhani. A música, que é uma das minhas preferidas, é super alto-astral, bem ao estilo dele, que fala de sua luta contra a doença, recheada de humor negro. Muitos a consideram uma despedida de George.
Infelizmente, desta vez o câncer estava vencendo o mais místico dos Beatles. Ele sentia dores cada vez piores e nenhum tratamento o aliviava. Nos seus últimos tempos, os amigos Ringo e Paul forma visitá-lo e o encontraram muito debilitado, o que fez com que o “frio e arrogante” Paul se debulhasse em lágrimas. George ainda tentou mais um tratamento e foi para Los Angeles, na casa de seu amigo Gavin de Becker.
O autor da oração mais linda e sublime ao senhor, “My sweet Lord” deixou suas últimas palavras:
“Tudo mais pode esperar, todavia a procura de Deus não pode" e "amai-vos uns aos outros"...
George Harrison faleceu em 29 de novembro de 2001. Seu último álbum, “Brainwashed” foi lançado em 2002 e traz belíssimas músicas como a empolgante “Any Road”, “P2 Vatican Blues”, “Pisces Fish” e a música-título, “Brainwashed”. Em 2003 foi lançado um álbum e um dvd em homenagem a George: “George in Concert”. O concerto,
qe teve sua renda revertida para entidades beneficentes, foi organizado por Eric Clapton, contou com todos os amigos de George e o resultado foi um dos melhores shows da década.
Já no ano 2005, mais precisamente em Outubro, foi lançado oficialmente o dvd do histórico “Concert for Bangladesh”, recheado de extras como entrevistas e depoimentos inéditos de George e de seus amigos. O cd do evento foi lançado oficialmente no Brasil em fevereiro do ano seguinte e contém a inédita “love minus zero”, de Bob Dylan...
Imperdível!


Ana Valéria Zelante Menegasso, Lingüista, Analista do Discurso e membro do GEB- Grupo de Est. Bakhtinianos e GPAD – Grupo de Pesq. em Análise do Discurso da UFU/MG.
Fotos:
www.georgeharrison.com/gallery

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