sexta-feira, 26 de junho de 2009

Fracas - o perfume!


Há perfumes lendários, há perfumistas lendários e há perfumes que se transformam em obsessão. Fracas é as três coisas, um feito bem menos comum do que se imagina.


Extraordinário, o perfume feminino Fracas é construído a partir da tuberosa, uma pequena flor branca (que não tem nada a ver com a rosa, o nome vem do latim e remete ao sistema de raízes da planta, que se assemelham a tubérculos) que exala um forte odor e é notória entre os perfumistas por ser uma matéria-prima muito difícil de ser trabalhada.


E talvez seja por isso que a perfumista de Fracas, Germaine Cellier, conseguiu domá-la.
Nascida em Bordeaux em 1909, Cellier foi pioneira em todos os sentidos: uma profissional em química, uma artista trabalhando no ambiente do olfato, alta, bela, abrasiva (e possivelmente lésbica), brilhante e intelectualmente insaciável, amiga de Cocteau, defensora das matérias-primas sintéticas. Ela foi também a criadora de um estilo impressionante.


"Ela transpôs o fauvismo e o abstracionismo para a perfumaria", escreveu Jeannine Mongin. "Ela criava na dissonância."E as criações se perpetuaram. Durante a Segunda Guerra, o designer Robert Piguet pediu um perfume para Cellier. Ela criou Bandit para ele em 1944. Em 1946, fez o Couer Joie para Nina Ricci, e em 1947 a referência Vent Vert para Balmain. Piguet então lhe pediu mais uma fragrância.É possível que o segredo de Fracas (1948) seja o equilíbrio entre o poder do estilo de Cellier e o poder da tuberosa.



O perfumista Aurelien Guichard é o guardião da fórmula, que ele diz ser "incrivelmente complexa". Devido à proibição do uso de várias matérias-primas por questões toxicológicas, nenhum perfume criado no meio do século passado é legal em sua fórmula original, e Guichard está encarregado de conservar a visão de Cellier enquanto a atualiza, com frequência, com componentes não-alergênicos.


Cellier embrulhou sua fórmula com tuberosa indiana absoluta, que lhe traz muita força e "sillage" (o rastro olfativo que ele deixa). Como todos os bons perfumistas, ela era uma ilusionista.



Para conseguir uma tuberosa ainda mais realista, ainda mais natural (que já carrega o cheiro de axila, carne e deterioração devido a pesadas moléculas chamadas indoles, que também estão presentes no jasmim), ela utilizou uma quantidade ainda maior de flor de laranjeira tunisiana absoluta, além de um pouco dos astronomicamente caros jasmim francês e manteiga de raiz de íris italiana.


Acrescente folha natural de violeta para dar ao cheiro doce e pesado um caráter refrescantemente selvagem e de grama molhada; íris para uma profundidade amadeirada; civeta sintética (o cheiro de um mestre de obras que não tomou banho) para denotar poder; os sintéticos C18 para uma qualidade tropical amanteigada e leitosa e metil-antranilato para a efervescência.


O resultado é uma assinatura, uma fixação na pele e uma intensidade que são, todas, surpreendentes. Mais um grande feito. Fracas


por Chandler Burr, do "The New York Times" *

Tradução: Erika Brandão


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