segunda-feira, 23 de maio de 2011

Eau de Shalimar by Chandler Blurr

A classificação "oriental" para perfumes é definida basicamente como fragrâncias construídas sobre duas matérias-primas: a baunilha e o labdanum. A baunilha é levemente problemática: os anos 60 transformaram-na em um clichê hippie. E há o labdanum, uma resina natural de um arbusto proveniente do Mediterrâneo que tem o cheiro tão forte quanto as axilas de um estivador.
Shalimar, criado em 1925 pelo perfumista Jacques Guerlain, é, historicamente, um dos perfumes mais importantes já desenvolvidos, assim como é, discutivelmente, o progenitor de toda uma categoria de perfumes gourmands. Mas Shalimar também é um perfume oriental de verdade, o que quer dizer baunilha e labdanum, e isso significa que a Guerlain enfrenta o desafio de vender esta grande obra de arte do século 20 no mercado global do século 21.

O que fazer?

Em 2004, Guerlain lançou o Shalimar Light, criado pela perfumista Mathilde Laurent, que modernizou com brilhantismo o perfume ao mesmo tempo em que mantinha sua alma intacta. Guerlain agora, inexplicavelmente, tirou Shalimar Light do mercado e lançou uma versão atualizada ainda mais atualizada, o Eau de Shalimar.

Na última semana usei a versão de 1925 em meu braço direito (para ser preciso, o perfume de 1925 foi atualizado com novas matérias-primas, já que a fórmula original continha vários ingredientes que hoje são ilegais por questões alérgicas) e o novo, de 2008, no meu braço esquerdo. Quando levantei o braço esquerdo para um executivo de meia-idade da Pfizer, ele disse: "Bom. Eu com certeza compraria". Braço direito? "Antiquado". Mas um homem de trinta e poucos anos do [banco de investimentos] Lehman Brothers amou o perfume antiquado. "Baunilha!", disse, com alegria. Ele então cheirou meu braço esquerdo e franziu a testa: "Olha, depois daquele primeiro, eu mal posso sentir o cheiro deste".

Isto pode ser um problema. Eau de Shalimar é, pelo menos durante seus vinte primeiros minutos, motivo de estudos sobre como modernizar uma fragrância. Enquanto a versão de 1925 traz um mistério soturno e suculento - tem o cheiro dos corredores levemente embolorados dos hotéis exóticos - a de 2008 sai do frasco com uma nota de cabeça (saída da cartilha atual) cítrica e brilhante, que os perfumistas mais jovens vêm sendo instruídos a acrescentar em seus perfumes que têm apelo comercial (é possível sentir o cheiro dos diretores de criação apontando para a faixa demográfica do mercado que fica entre os 15 e os 29 anos).

Quando a Guerlain moderniza a categoria oriental até que o labdanum evapore e a baunilha fique encharcada pelo limão, será que alguma coisa do DNA do Shalimar ainda existe? Em determinados momentos, não estou convencido, pois sua redução minimalista me parece um pouco higiênica demais: mal posso sentir seu cheiro. Em outros momentos, parece funcionar. Em um almoço com uma amiga, recentemente, eu lhe ofereci o braço esquerdo (de 2008). "Gostei disso!", ela disse. Antes de levantar meu outro braço, ela acrescentou: "Ele me lembra oShalimar".  (Trad. Erika Brandão)

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